Gustavo Galvão

cineasta | filmmaker

UM OUTRO, EU MESMO – VARIAÇÕES SOBRE GÊNERO NO CINEMA

Idealizador e curador da mostra
Autor e editor de livreto de 16 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 20 de janeiro a 13 de fevereiro de 2017

Da permissão do voto feminino (a Nova Zelândia foi pioneira, em 1893) ao direito do casamento entre pessoas do mesmo sexo (o primeiro passo foi dado pela Holanda, em 2001), transcorreu todo o século 20. São dois momentos emblemáticos da luta contra as barreiras impostas em função do gênero e da sexualidade. Essa luta converge agora para outra importante revolução: a redefinição do próprio conceito de gênero. Ainda faz sentido enquadrar o mundo pela lógica binária?

A mostra Um Outro, Eu Mesmo – Variações Sobre Gênero no Cinema nasceu da percepção não apenas dos avanços históricos no tema, mas também das ameaças aos direitos conquistados pelas mais diversas minorias. O cinema nunca foi insensível ao debate; ele está alerta para preconceitos, quebra tabus, sugere respostas, faz questionamentos. Grandes realizadores se dedicam a questões como identidade de gênero, normatividade e diversidade sexual. E assim avançamos mais.

Com 25 filmes de 12 países, lançados entre 1959 e 2016, Um Outro, Eu Mesmo percorre seis décadas. Mais que um panorama do tema, a programação canaliza o potencial de conscientização dessas obras, situando-as como faróis em um mundo em transformação. Inspirados e inquietos, esses longas e curtas são um convite à reflexão sobre o que vivemos e o que se desenha para o futuro.

Os longas:
Billy Elliot (Stephen Daldry, Grã-Bretanha, 2000)
Cinco Graças (Deniz Gamze Ergüven, Turquia, 2015)
Doce Amianto (Guto Parente e Uirá dos Reis, Brasil, 2013)
Elvis e Madona (Marcelo Laffitte, Brasil, 2010)
Força Maior (Ruben Östlund, Suécia, 2014)
Garotas (Céline Sciamma, França, 2014)
Hedwig – Rock, Amor e Traição (John Cameron Mitchell, EUA, 2001)
India Song (Marguerite Duras, França, 1975)
Jeanne Dielman (Chantal Akerman, Bélgica, 1975)
Laurence Anyways (Xavier Dolan, Canadá, 2012)
Madame Satã (Karim Aïnouz, Brasil, 2002)
Meninos não Choram (Kimberly Peirce, EUA, 1999)
Minha Vida em Cor-de-Rosa (Alain Berliner, Bélgica, 1997)
Orlando – A Mulher Imortal (Sally Potter, Grã-Bretanha, 1992)
Osama (Siddiq Barmak, Afeganistão, 2003)
Quanto Mais Quente Melhor (Billy Wilder, EUA, 1959)
Tiresia (Bertrand Bonello, França, 2003)
Tomboy (Céline Sciamma, França, 2011)
Tudo Sobre Minha Mãe (Pedro Almodóvar, Espanha, 1999)
XXY (Lucía Puenzo, Argentina, 2007)

Os curtas:
Kindil El-Bahir (Damien Ounouri, Argélia, 2015)
Os Sapatos de Aristeu (René Guerra, Brasil, 2008)
Spermwhore (Anna Linder, Suécia, 2016)
Trans (Mark Chapman, Grã-Bretanha, 2013)
Vestido de Laerte (Claudia Priscilla e Pedro Marques, Brasil, 2012)


RETROSPECTIVA WONG KAR-WAI

Idealizador e curador da mostra
Autor e editor de livro de 80 páginas

Caixa Cultural (Rio de Janeiro),
de 09 a 21 de novembro de 2010

Para ser considerado arte, o cinema precisa de pessoas como Wong Kar-wai. Precisa de pessoas que acreditem no ofício de cineasta como oportunidade para repensar o homem e o mundo. Se um artista tem capacidade de transportar o espectador a outros universos, os mestres conseguem nos transportar a um imaginário particular, onde nos surpreendem com a imagem refletida de nós mesmos. Com dez longas em 22 anos dedicados a histórias de amores frustrados e à experimentação estética, o realizador chinês revela o que somos e como somos de formas inesperadas.

Com a determinação de enfocar homens e mulheres em busca de alguma satisfação, ele encontra as contradições das relações interpessoais no contexto contemporâneo. Somos como o jovem protagonista de Dias Selvagens, que perde a chance de amar e ser amado porque se julga diferente dos outros; somos como os solitários de Amores Expressos, que esbarram em possibilidades de redenção emocional a todo instante, mas custam a perceber isso; somos como os amantes inseguros de Felizes Juntos, Amor à Flor da Pele e 2046, que se afastam quando o que querem é o afeto um do outro.

Somos como esses personagens, que elegem artifícios mil para abstrair a realidade. Não é a fuga a essência da ficção? Cronista de corações partidos e do tempo que passa e deixa marcas, Kar-wai não condena com juízos de valor os jovens, solitários e amantes, ele se compadece deles. Não é condescendência, é simplesmente generosidade. Graças a isso nos rendemos a tipos cativantes em sua banalidade, embora sem virtudes notáveis. É o caso do policial 663, de Amores Expressos: ao deparar com o apartamento inundado, ele acha que o imóvel chorou pela partida de sua namorada. Ora, por que não?

O espírito lúdico com o qual Kar-wai molda seus personagens é o mesmo espírito que ele adota ao manipular o tempo das imagens, as inserções musicais, os diálogos e situações. Trata-se de um diretor raro, daqueles que utilizam todos os recursos pelo prazer de se expressar, e não para atender expectativas e/ou alimentar o senso comum. Kar-wai entende a manifestação audiovisual como uma extensão dos sentidos, dos sentimentos e da memória, três elementos que ele ativa insistentemente com seu cinema pulsante. Três elementos imprescindíveis para o entendimento da experiência humana.

Os filmes:
2046 – Os Segredos do Amor (HK/China/França/Itália, 2004)
Amor à Flor da Pele (Hong Kong/França, 2000)
Amores Expressos (Hong Kong, 1994)
Anjos Caídos (Hong Kong, 1995)
Cinzas do Passado (Hong Kong, 1994/2008)
Conflito Mortal (Hong Kong, 1988)
Dias Selvagens (Hong Kong, 1990)
Eros (Hong Kong/França/Itália/EUA, 2004)
Felizes Juntos (Hong Kong/Japão/Coréia do Sul, 1997)
Um Beijo Roubado (Hong Kong/China/França, 2007)


ORIENTE DESCONHECIDO

Idealizador, curador e coordenador da mostra
Autor e editor de livro de 32 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 02 a 14 de setembro de 2008
Centro Cultural Banco do Brasil (Rio),
de 23 de setembro a 05 de outubro de 2008
Centro Cultural Banco do Brasil (São Paulo),
de 24 de setembro a 05 de outubro de 2008

Transcendência, eis uma palavra fora de moda. Nesses dias tão nervosos, em que o que conta mesmo é o consumo imediato de qualquer “coisa” e não a “coisa” em si, o utilitarismo se sobressai a tudo. E corrompe tudo, inclusive a razão de ser do cinema, refém das demandas de um mercado excludente e pouco flexível.

Como projeção da vida, o cinema pode ser uma experiência transcendental e plena de significados que extrapolam a mesmice. Inúmeros cineastas do Sudeste Asiático e do Extremo Oriente são capazes de confirmar isso e estão prontos para estabelecer um diálogo com o público brasileiro. Só falta a oportunidade.

É o caso do taiwanês Hou Hsiao-hsien, cuja obra acaba restrita aos festivais. Não é por falta de virtudes técnicas e humanas. O mesmo ocorre com os tailandeses Apichatpong Weerasethakul e Pen-Ek Ratanaruang, entre outros demolidores de convenções sociais e cinematográficas resgatados pela mostra Oriente Desconhecido.

Com 12 longas do período 1997-2006, todos inéditos no Brasil, a mostra se propõe a compensar um histórico de indiferença. Assim, enfatiza seis diretores de cinco países. Jia Zhang-ke (China), Kim Ki-duk (Coréia do Sul) e Yu Lik-wai (Hong Kong) se unem a Hsiao-hsien, Weerasethakul e Ratanaruang em programação dedicada à formação de plateias inquietas e à revalorização da transcendência – o antídoto para os dias nervosos e para a mesmice.

Os filmes:
All Tomorrow’s Parties (Yu Lik-wai, Hong Kong, 2003)
Blissfully Yours (Apichatpong Weerasethakul, Tailândia, 2002)
Invisible Waves (Pen-Ek Ratanaruang, Tailândia, 2006)
Last Life in the Universe (Pen-Ek Ratanaruang, Tailândia, 2003)
Love Will Tear Us Apart (Yu Lik-wai, Hong Kong, 1999)
Millennium Mambo (Hou Hsiao-hsien, Taiwan, 2001)
Samaria (Kim Ki-duk, Coréia do Sul, 2004)
Syndromes and a Century (Apichatpong Weerasethakul, Tailândia, 2006)
The World (Jia Zhang-ke, China, 2004)
Three Times (Hou Hsiao-hsien, Taiwan, 2005)
Tropical Malady (Apichatpong Weerasethakul, Tailândia, 2004)
Xiao Wu – Artisan Pickpocket (Jia Zhang-ke, China, 1997)


 

NOUVELLE VAGUE ONTEM E HOJE

Idealizador, curador e coordenador da mostra
Autor e editor de livro de 72 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 04 a 23 de março de 2008

Sempre se falou da Nouvelle Vague. Por mais contraditório que fosse, o movimento que pregava a revolução estética e estrutural do cinema francês tinha apelo. De tão influente, inspirou propostas similares fora da França, respingou em Hollywood e mudou o curso do cinema. Ainda assim, nunca prezou pela unidade de estilo nem de pensamento. E o termo virou um mero chavão para definir a importância de François Truffaut, Jean-Luc Godard, Alain Resnais ou Éric Rohmer no contínuo processo de afirmação da sétima arte. Afinal, o que é Nouvelle Vague?

Na maior onda de renovação que se tem notícia na França, 170 cineastas estrearam em longa-metragem entre 1958 e 1962. O jornalista Pierre Billard pressentiu o fenômeno, o qual batizou de nouvelle vague (“nova onda”), em fevereiro de 1958. Aplicada aos jovens diretores da época, a expressão abarcou tudo: de adeptos da comédia a intelectuais com forte pegada autoral. Todos queriam romper com o controle rígido dos sindicatos e com um modelo de cinema, de viés industrial, que apresentava sinais inequívocos de estagnação. Passado o modismo, já em 1963, poucos haviam garantido um lugar na História.

Com a premissa de ir além das homenagens, Nouvelle Vague Ontem e Hoje propõe uma reflexão em torno da geração que subverteu tanto a forma de fazer filmes quanto a forma de vê-los. Com 19 longas, a programação se divide em duas. Predominam os filmes que consagraram o movimento e seus líderes. Eles são dispostos ao lado de quatro títulos produzidos recentemente, que prolongam o alcance de uma era em que questionar padrões era um ato vital.

Os filmes:
A Colecionadora (Éric Rohmer, França, 1967)
Acossado (Jean-Luc Godard, França, 1960)
Amantes Constantes (Philippe Garrel, França, 2005)
Ano Passado em Marienbad (Alain Resnais, França, 1961)
A Nouvelle Vague por ela Mesma (Robert Valey e André S. Labarthe, França, 1964-1995)
Ascensor para o Cadafalso (Louis Malle, França, 1958)
Cléo das 5 às 7 (Agnès Varda, França, 1961)
Hiroshima Meu Amor (Alain Resnais, França, 1959)
Jules e Jim (François Truffaut, França, 1962)
Louise (Take 2) (Siegfried, França, 1998)
Minha Noite com Ela (Éric Rohmer, França, 1969)
Mulheres Fáceis (Claude Chabrol, França, 1960)
O Desprezo (Jean-Luc Godard, França, 1963)
O Signo de Leão (Éric Rohmer, França, 1959)
Os Incompreendidos (François Truffaut, França, 1959)
Os Sonhadores (Bernardo Bertolucci, França/EUA, 2003)


 

CLANDESTINA LIBERDADE

Idealizador, curador e coordenador da mostra
Autor e editor de livreto de 20 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 12 de fevereiro a 02 de março de 2008
Centro Cultural Banco do Brasil (São Paulo),
de 12 a 23 de setembro de 2007

Nos países da Europa Ocidental, a expulsão de um imigrante ilegal custa quase três mil euros ao Estado. Só o governo espanhol gasta cerca de 15 milhões de euros por ano para deportar estrangeiros. A mídia repete estes e outros números como se assim traduzissem a realidade. No mundo desenvolvido, estatísticas valorizam o lado econômico e encobrem as tragédias por trás da problemática da imigração: epidemias, conflitos, o abandono da África após séculos de colonização, tráfico de pessoas, escravidão, intolerância racial.

Imigração não se resume com números. Se a cobertura da mídia tende a ser unidimensional, o cinema oferece outros pontos de vista. Uma parte significativa da produção atual promove uma reflexão aprofundada sobre os temas que envolvem a imigração, quase sempre com espírito reconciliador. Para isso, cineastas de diferentes cantos do planeta se servem do enfoque humanista. Em vez de repetir estatísticas, eles dão voz a pessoas. A mostra Clandestina Liberdade amplia a discussão por meio de 14 longas.

Os títulos programados partem da disposição em estimular a convivência entre os povos e de questionar supostas diferenças. Trata-se de uma iniciativa oportuna, agora que o racismo volta a ser debatido com o aumento de casos diversos – como os distúrbios na periferia de Paris, em novembro de 2005. O problema cresce nesta era globalizada, em que as fronteiras são derrubadas e os povos são estimulados a conviverem, mas não necessariamente a superarem o receio, o preconceito e o ódio.

Os filmes:
A Grande Viagem (Ismaël Ferroukhi, França/Marrocos, 2004)
A Pequena Jerusalém (Karin Albou, França, 2005)
A Promessa (Luc e Jean-Pierre Dardenne, Bélgica, 1996)
Assédio (Bernardo Bertolucci, Itália, 1998)
Balseros (Carlos Bosch e Josep María Domènech, Espanha, 2002)
Beautiful People (Jasmin Dizdar, Grã-Bretanha, 1999)
Código Desconhecido (Michael Haneke, França, 2000)
Contra a Parede (Fatih Akin, Alemanha/Turquia, 2004)
Djomeh (Hassan Yektapanah, Irã, 2000)
Exílios (Tony Gatlif, França, 2004)
Neste Mundo (Michael Winterbottom, Grã-Bretanha, 2003)
Paisagem na Neblina (Theo Angelopoulos, Grécia, 1988)
Pão e Rosas (Ken Loach, Grã-Bretanha, 2000)
Um Herói de Nosso Tempo (Radu Mihaileanu, França/Israel, 2005)


ANALÓGICO DIGITAL

Idealizador, curador e coordenador da mostra
Autor e editor de livro de 68 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (Rio),
de 17 a 29 de abril de 2007
Centro Cultural Banco do Brasil (São Paulo),
de 09 a 27 de maio de 2007
Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 29 de maio a 17 de junho de 2007

O que esperar do cinema digital, que provavelmente dispensará a película? Para o artista, mais frutífero do que especular sobre o futuro deve ser desfrutar o presente. Da mescla da linguagem que reinventou as outras (o cinema) com uma derivada da televisão e que também tem histórico de experimentação formal (o vídeo), é de se esperar que se consolide uma terceira – vinculada aos valores estéticos de ambas, mas renovada. Há muito a testar nesta fase de inter-relações. Ainda que a película não tenha cumprido seu ciclo, do vídeo digital pode surgir outro cinema.

Estas idéias motivaram a realização da mostra Analógico Digital. A programação conta com 20 longas de diferentes nacionalidades e sete curtas brasileiros. Mesmo lançados em 35mm, todos foram produzidos em vídeo ou com o auxílio de computação gráfica. Os filmes em questão apontam esta contradição. Já se esboça uma história a partir dela, a do cinema digital. Esta se revela repleta de nuances, o que indica uma variedade de possibilidades para a própria arte.

Os longas:
A Bruxa de Blair (Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, EUA, 1999)
A Festa Nunca Termina (Michael Winterbottom, Grã-Bretanha, 2002)
À Margem do Concreto (Evaldo Mocarzel, Brasil, 2005)
A Inglesa e o Duque (Éric Rohmer, França, 2001)
As Bicicletas de Belleville (Sylvain Chomet, França/Bélgica, 2003)
Buena Vista Social Club (Wim Wenders, Alemanha/Cuba, 1999)
Caché (Michael Haneke, França, 2005)
Dançando no Escuro (Lars von Trier, Dinamarca, 2000)
Elogio do Amor (Jean-Luc Godard, França, 2001)
Entreatos (João Moreira Salles, Brasil, 2004)
Festa de Família (Thomas Vinterberg, Dinamarca, 1998)
Fuckland (José Luis Marqués, Argentina, 2000)
Lúcia e o Sexo (Julio Medem, Espanha, 2001)

O Fim e o Princípio (Eduardo Coutinho, Brasil, 2005)
O Homem Urso (Werner Herzog, EUA/Canadá, 2005)
O Mistério de Oberwald (Michelangelo Antonioni, Itália, 1981)
O Prisioneiro da Grade de Ferro (Paulo Sacramento, Brasil, 2004)
Os Idiotas (Lars von Trier, Dinamarca, 1998)
Sin City (Robert Rodriguez e Frank Miller, EUA, 2005)
Waking Life (Richard Linklater, EUA, 2001)

Os curtas:
A Lente e a Janela (Marcius Barbieri, DF, 2005)
A Menina do Algodão (Daniel Bandeira e Kleber Mendonça Filho, PE, 2002)
Memória sem Visão (Marco Valle, SP, 2006)
O Lobisomem e o Coronel (Ítalo Cajueiro e Elvis Kleber, DF, 2002)
Superfície (Jimi Figueiredo, DF, 2004)
Território Vermelho (Kiko Goifman, SP, 2004)
Trecho (Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina, MG, 2006)


ALEMANHA, UM OLHAR FEMININO

Curador convidado

Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 27 de fevereiro a 11 de março de 2007

O senso comum determina que os homens ditam os capítulos mais criativos do cinema. Felizmente, esta tendência é contrariada vez ou outra. A Alemanha é um país rico em exemplos. Nos anos 1920, Lotte Reiniger desenvolvia pesquisas estimulantes com a animação de sombras. Na década seguinte, ninguém provocou tanto debate e poucos causaram tanto deslumbramento quanto Leni Riefenstahl. Era a cineasta dos nazistas, e isso pesa, mas não há como ignorar o elo que estabeleceu entre cinema e artes plásticas com Olympia (1938), marcado por um rigor estético único.

O melhor ficou para os anos 1970. Uma leva de realizadoras foi revelada ao discutir a sociedade alemã com um ponto de vista instigante. Para cada diretor relevante que despontava naqueles dias de Novo Cinema Alemão, havia uma mulher. Daí a importância da mostra Alemanha, Um Olhar Feminino. É preciso entender a perspectiva feminina do mundo. Logo, é preciso recuperar Berlim Sem Fantasia (de Helke Sander), Anos de Fome num País Rico (Jutta Brückner) e O Equilíbrio da Felicidade (Margarethe von Trotta), entre outros filmes emblemáticos.

Os filmes:
A Música e o Silêncio (Caroline Link, Alemanha, 1996)
Anos de Fome num País Rico (Jutta Brückner, Alemanha, 1980)
Berlim sem Fantasia (Helke Sander, Alemanha, 1978)
Lugar Nenhum na África (Caroline Link, Alemanha, 2001)
Malou (Jeanine Meerapfel, Alemanha, 1981)
No Meio do Coração (Doris Dörrie, Alemanha, 1983)
O Equilíbrio da Felicidade (Margarethe von Trotta, Alemanha, 1979)
Olympia I: Ídolos do Estádio (Leni Riefenstahl, Alemanha, 1938)
Olympia II: Vencedores Olímpicos (L. Riefenstahl, Alemanha, 1938)
O Segredo da Marquesa (Lotte Reiniger, Alemanha, 1921)
O Segundo Despertar de Christa Klages (Margarethe von Trotta, Alemanha, 1978)
O Sono da Razão (Ula Stöckl, Alemanha, 1984)
Paz com Gosto de Hortelã (Marianne Rosenbaum, Alemanha, 1983)
Sou Bonita? (Doris Dörrie, Alemanha, 1998)


ARTE EM MOVIMENTO – A FOTOGRAFIA NO CINEMA

Idealizador, curador e coordenador da mostra
Autor e editor de livro de 104 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (São Paulo),
de 03 a 21 de maio de 2006
Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 23 de maio a 11 de junho de 2006
Centro Cultural Banco do Brasil (Rio),
de 24 de julho a 05 de agosto de 2007

O cinema nasceu da fotografia, quando esta deixou de ser estática e ganhou movimento. São tecnologias irmãs: o desenvolvimento de uma influencia no da outra. No entanto, foi a partir da pintura que o cinema pôde se desenvolver como uma expressão artística, ao reinventar alguns de seus elementos básicos. Do apuro na composição do quadro e na combinação de tons à obstinação em dominar a luz. O trabalho do diretor de fotografia abrange tudo isso, e mais.

São muitos os cineastas que contaram com mestres da luz para desenvolver uma obra visualmente instigante. Se uns criaram técnicas, outros as aperfeiçoaram. Raoul Coutard representa um caso extraordinário, que conseguiu lidar com as duas facetas. Não por acaso, o francês esteve em quase todos os filmes dirigidos por Jean-Luc Godard na fase mais criativa deste (1960-1967).

Apesar da importância deste e de outros profissionais, a maioria é ignorada por público e crítica. Arte em Movimento compensa este descaso com uma programação e um catálogo orientados para a formação estética do espectador. Trata-se também de homenagem ao profissional que compreende como poucos a verdadeira noção de cinema. Se cinema é uma tecnologia, este é o profissional responsável por torná-lo também uma arte.

Os filmes:
A Bela e a Fera (Jean Cocteau, França, 1946)
Acossado (Jean-Luc Godard, França, 1960)
A Noite (Michelangelo Antonioni, Itália, 1961)
Arca Russa (Alexander Sokurov, Rússia, 2002)
A Regra do Jogo (Jean Renoir, França, 1939)
Amor à Flor da Pele (Wong Kar-wai, Hong Kong, 2000)
Cidadão Kane (Orson Welles, EUA, 1941)
Gritos e Sussurros (Ingmar Bergman, Suécia, 1972)
Limite (Mário Peixoto, Brasil, 1931)
Madame Satã (Karim Aïnouz, Brasil, 2002)
Moça com Brinco de Pérola (Peter Webber, Inglaterra, 2003)
O Atalante (Jean Vigo, França, 1934)
O Conformista (Bernardo Bertolucci, Itália/França, 1970)
O Encouraçado Potemkin (Sergei Eisenstein, ex-URSS, 1925)
O Leopardo (Luchino Visconti, Itália, 1963)
Os Fuzis (Ruy Guerra, Brasil, 1964)
Pickpocket (Robert Bresson, França, 1959)
Portal do Inferno (Teinosuke Kinugasa, Japão, 1953)
Touro Indomável (Martin Scorsese, EUA, 1980)
Tudo Sobre Minha Mãe (Pedro Almodóvar, Espanha, 1999)


OS IRLANDESES – A LITERATURA DE JAMES JOYCE
E O CINEMA DE CONFLITO

Idealizador, curador e coordenador da mostra
(curadoria em parceria com Paulo Paniago)
Coautor e editor de livreto de 20 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 09 a 21 de maio de 2006
Centro Cultural Banco do Brasil (Rio),
de 25 de julho a 06 de agosto de 2006

Nunca se deve perguntar quantos, e sim quais idiomas comportam o escritor irlandês James Joyce. Com um estilo inconfundível, ele é a esfinge da literatura do século 20, pronta para ser decifrada. Se uma pessoa entende o humor do autor, pode entender com maior facilidade o tufão de idéias que ele foi. Decifrá-lo também significa compreender um povo singular, que nutre uma relação de amor e ódio com a própria terra.

De caráter multidisciplinar, Os Irlandeses apresenta uma relação de nove filmes importantes para conhecer em parte a questão irlandesa, marcada por discussões profundas sobre identidade nacional, engajamento político e religiosidade. A programação é complementada por palestras com especialistas em Joyce. Trata-se de uma aproximação necessária ao universo do escritor. Ou uma abordagem inusitada de um cinema de grande impacto emocional.

Os filmes:
Alto Risco (John Mackenzie, Irlanda, 2000)
A Noiva do Inverno (Thaddeus O´Sullivan, Irlanda, 1990)
As Mulheres de Adam (Gerard Stembridge, Irlanda, 2000)
Em Nome de Deus (Peter Mullan, Irlanda, 2002)
Liam (Stephen Frears, Inglaterra, 2000)
Terra dos Sonhos (Jim Sheridan, Irlanda/Inglaterra, 2002)
Um Sonho a Mais (Robert Dornhelm, Inglaterra/Irlanda, 1997)
Todas as Cores do Amor (Elizabeth Gill, Irlanda, 2003)
Traídos Pelo Desejo (Neil Jordan, Irlanda, 1992)


EXPRESSIONISMO REVISITADO

Idealizador, curador e coordenador da mostra
Autor e editor de livreto de 52 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (Rio),
de 12 a 24 de abril de 2005
Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 26 de abril a 08 de maio de 2005
Centro Cultural Banco do Brasil (São Paulo),
de 03 a 15 de maio de 2005

Das vanguardas que despontaram na Europa do início do século 20, o Expressionismo foi a mais heterogênea. Diferentes correntes surgiram entre a Noruega e a Suíça. Elas concordavam em um ponto: o artista deveria valorizar a subjetividade acima de tudo. “O Expressionismo não vê; tem visões”, definiu Lotte Eisner no livro A Tela Demoníaca.

O livro de Eisner foi publicado em 1952. À época, acreditava-se que o Expressionismo estava acabado. Na verdade, ele nunca morreu. Mudou graças ao cinema, espalhou-se pelo mundo. Ele se nota na fotografia densa dos policiais noir; na ênfase dos thrillers psicológicos em personagens atormentadas; nos filmes de terror e suas metáforas da condição humana; na concepção visual das obras de Welles, Bergman, Lynch…

Os ideais de subjetividade do movimento repercutem até hoje. Por isso, Expressionismo Revisitado não se resume a homenagens. A programação tem duas propostas centrais: recuperar raridades e filmes-chave do período expressionista (1920-1931) e colocar à prova a influência daquela geração com filmes produzidos entre 1949 e 2004. Assim, o público tem a seu alcance mais de 80 anos de história do cinema.

Os filmes:
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (Tim Burton, EUA, 1999)
A Marca da Maldade (Orson Welles, EUA, 1958)
A Morte Cansada (Fritz Lang, Alemanha, 1922)
A Última Gargalhada (F.W. Murnau, Alemanha, 1924)
Cidade dos Sonhos (David Lynch, EUA/França, 2001)
Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder, EUA, 1950)
Fausto (F.W. Murnau, Alemanha, 1926)
M., O Vampiro de Düsseldorf (Fritz Lang, Alemanha, 1931)
Metrópolis (Fritz Lang, Alemanha, 1927)
Nosferatu, O Vampiro da Noite (Werner Herzog, Alemanha, 1979)
Nina (Heitor Dhalia, Brasil, 2004)
O Estranho Mundo de Jack (Henry Selick, EUA, 1993)
O Gabinete das Figuras de Cera (Paul Leni, Alemanha, 1924)
O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, Alemanha, 1920)
O Golem (Paul Wegener, Alemanha, 1920)
O Processo (Orson Welles, EUA, 1962)
O Sétimo Selo (Ingmar Bergman, Suécia, 1957)
O Terceiro Homem (Carol Reed, Grã-Bretanha, 1949)
Rebecca, A Mulher Inesquecível (Alfred Hitchcock, EUA, 1940)
Repulsa ao Sexo (Roman Polanski, França/Grã-Bretanha, 1965)
Segredos de uma Alma (G.W. Pabst, Alemanha, 1926)
Spider (David Cronenberg, Canadá/Grã-Bretanha, 2002)


OUTROS RUMOS – A REINVENÇÃO DO ROAD MOVIE

Idealizador, curador e coordenador da mostra
Autor e editor de livreto de 44 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (Rio),
de 11 a 16 de janeiro de 2005
Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 22 de março a 03 de abril de 2005
Centro Cultural Banco do Brasil (São Paulo),
de 26 de abril a 01 de maio de 2005

Alguns dos mais originais romances da literatura ocidental não acontecem num lugar fixo, mas em movimento, com personagens na estrada. É uma tradição narrativa à parte, que começou com a Odisséia, de Homero. O apelo da viagem é claro: retirada de sua rotina, uma pessoa tende a observar o mundo – e si mesma – com outros olhos.

No cinema, a tradição “pé na estrada” tem raízes no faroeste, que sai dos estúdios e utiliza espaços abertos como cenário. Nos anos 1950 e 1960, tempos de crescimento da indústria automobilística, o fascínio pela máquina definiu o gênero como apologia à liberdade e à velocidade. Nascia o termo road movie. No entanto, o gênero é mais amplo. Os títulos selecionados para a mostra Outros Rumos revelam que o gênero pode se manifestar sob diversas faces.

O curioso é que todos os filmes partem do mesmo impulso, até nos casos mais radicais de renovação de linguagem. É o impulso de encarar a estrada. “Do ponto de vista espiritual”, Juan Eduardo Cirlot define em seu Diccionario de Símbolos, “a viagem não é nunca o mero traslado no espaço, é também a tensão da busca e de mudança que determina o movimento e a experiência que se deriva do mesmo”.

Os filmes:
Aconteceu Naquela Noite (Frank Capra, EUA, 1934)
Alice não Mora Mais Aqui (Martin Scorsese, EUA, 1974)
Central do Brasil (Walter Salles, Brasil, 1998)
Coração Selvagem (David Lynch, EUA, 1990)
Daunbailó (Jim Jarmusch, EUA, 1985)
Diários de Motocicleta (Walter Salles, EUA/Grã-Bretanha/França, 2004)
E Sua Mãe Também (Alfonso Cuarón, México, 2001)
Estranhos no Paraíso (Jim Jarmusch, EUA, 1984)
Felizes Juntos (Wong Kar-wai, Hong Kong, 1997)
Gosto de Cereja (Abbas Kiarostami, Irã, 1997)
Hana-bi – Fogos de Artifício (Takeshi Kitano, Japão, 1997)
História Real (David Lynch, EUA, 1999)
Morangos Silvestres (Ingmar Bergman, Suécia, 1957)
O Demônio das 11 Horas (Jean-Luc Godard, França, 1965)
Sem Destino (Dennis Hopper, EUA, 1969)
Terra de Ninguém (Terence Malick, EUA, 1973)
Thelma & Louise (Ridley Scott, EUA, 1991)
Vermelho Sangue (Arturo Ripstein, México/Espanha, 1996)
Viagem ao Princípio do Mundo (Manoel de Oliveira, França/Portugal, 1997)


O NOVO CINEMA BRASILIENSE

Idealizador, curador e coordenador da mostra
(em parceria com Marcelo Díaz)
Coautor e editor de livreto de 36 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília),
de 05 a 10 de abril de 2005

Quase não existia um cinema essencialmente brasiliense até pouco tempo atrás. A produção era irregular e muitos dos filmes que eram rodados na capital traziam a assinatura de cineastas de fora, pouco preocupados com a identidade cultural da cidade. Nos anos 1990, o quadro começou a mudar. No ano 2000, a produção deslanchou.

Naquele ano, 14 curtas foram lançados, o que colocou Brasília entre os principais pólos produtores do Brasil. A mostra reúne a maior parte dos curtas lançados entre 2000 e 2004, período no qual a cidade consolidou sua vocação para o cinema e a formação de talentos. Em cinco anos, foram revelados 34 cineastas.

Nesse contexto se confirma a importância da mostra O Novo Cinema Brasiliense, a maior do gênero já realizada na cidade. É um grande painel de divulgação e discussão da produção local, criado em homenagem a uma geração cuja força é reconhecida nos festivais. Uma produção que se destaca pela abrangência estética e temática. Mesmo com tantas diferenças, há um olhar brasiliense por trás de cada trabalho.


AS TRÊS CHINAS

Idealizador, curador e coordenador da mostra
Autor e editor de livreto de 16 páginas

Centro Cultural Banco do Brasil (São Paulo),
de 17 a 22 de agosto de 2004

Com o estouro de O Sorgo Vermelho no Festival de Berlim, em 1987, a China chegou ao topo do cinema e não o abandonou mais. Desde então, produções orientais diversas conquistam prêmios e admiradores nos festivais do Ocidente. À frente deste movimento estão não apenas cineastas da China, mas também de Taiwan e de Hong Kong. Em comum, têm a obstinação de discutir as aflições do ser humano, as quais trabalham de maneira arrebatadora.

Ao assistir a alguns dos mais significativos filmes do período 1987- 2001, o público pode identificar três aspectos cruciais na difusão do novo cinema asiático: a contribuição de Wong Kar-wai para o amadurecimento da estética audiovisual, a formação de vertente humanista na China (a despeito da censura comunista) e a lição existencial de dois gênios da chamada nouvelle vague de Taiwan, Tsai Ming-liang e Edward Yang. Se, aparentemente, eles falam de si mesmos, na verdade falam por todos nós.

Os filmes:
Amores Expressos (Wong Kar-wai, Hong Kong, 1994)
Anjos Caídos (Wong Kar-wai, Hong Kong, 1995)
As Coisas Simples da Vida (Edward Yang, Taiwan, 2000)
Bicicletas de Pequim (Wang Xiaoshuai, China, 2001)
O Outro Lado da Cidade Proibida (Zhang Yuan, China, 1996)
O Rio (Tsai Ming-liang, Taiwan, 1997)
O Sorgo Vermelho (Zhang Yimou, China, 1987)
Vive l´Amour (Tsai Ming-liang, Taiwan, 1994)